segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amor que faz a diferença

Por: Fernando Beier

“Desde que ouvi falar da fé que vocês têm no Senhor Jesus e do amor que demonstram para com todos os santos, não deixo de dar graças por vocês”. Efésios 1:15 e 16. NVI

Era noite de sexta-feira e resolvi ler um pouco antes de dormir. Era um livro de histórias. Uma delas me chama a atenção. Conta da dedicação de uma enfermeira a uma paciente com aneurisma cerebral. Esta mulher enferma era incapaz de sentir dor e alheia a tudo o que se passava ao seu redor. Ninguém no hospital demonstrava a mínima atenção por ela, a não ser aquela enfermeira, que conversava com a paciente muda, cantava para ela, e chegou até mesmo a presenteá-la com algumas lembrancinhas.

Ao terminar de ler, tocado pelo relato, fiquei a me perguntar: isto é mesmo possível? As pessoas são capazes de amar sem querer nada em troca?

Foi quando me veio à lembrança algo que aconteceu em minha igreja na semana anterior.

Era o culto jovem. Alguns membros convidados de uma igreja da periferia paulistana realizavam a programação. Perto do encerramento, o conjunto musical se posicionou para a última canção. Enquanto observava sua locomoção até a plataforma (eu estava sentado no penúltimo banco), fiquei pensando na disposição daquela gente. Estavam conosco desde a manhã. Possivelmente, acordaram de madrugada para poder chegar a tempo em nossa igreja. Animados, conduziram toda a programação matinal. Almoçamos todos juntos num salão apertado junto à cozinha de nossa igreja. Apesar da falta de espaço e da fila enorme para pegar a comida, não me lembro de ter visto ninguém de cara amarrada. Todos eles deixaram o conforto de seu lar para nos trazer um pouco de sua alegria e motivação.

Agora, estavam todos ali, sorridentes para o hino final. A melodia começa e soa tocante. Foi quando meus olhos se fixaram em uma senhora de cabelos brancos. Não sei como explicar isso, mas, de alguma forma, sentia que ela cantava com toda a força do coração. Logo pude observar lágrimas escorrendo em sua face. Ela cantava, sorria e chorava. Ela está sentindo dor ou alegria? Seu coração está triste por algum problema ou é simplesmente gratidão?

Alguns membros do coral também notaram a comoção daquela senhora e então, eu pude contemplar lágrimas em lugares diferentes do palco. Mesmo sem saber ao certo o que existia dentro de cada coração, eu também sou contagiado pela emoção.

Então acontece algo inesperado. Uma mulher na platéia se levanta em meio à música, caminha em direção àquela senhora, coloca-se ao seu lado, dando-lhe um abraço e sussurra algo em seu ouvido. Aquele ato desencadeia um efeito dominó e, uma a uma, as pessoas que estavam sentadas se levantam e escolhem alguém do coral para abraçar. Noto que até os mais tímidos dirigem-se ao palco com uma atitude desembaraçada. Os bancos ficam vazios e apenas um bloco de pessoas se forma junto ao púlpito. Posteriormente, alguém disse que tinha o formato de um coração. Por que não?

Sou chamado para fazer a oração de despedida. Enquanto me dirijo até o microfone, penso por um instante nos defeitos que a igreja possui. Me pergunto se aquelas pessoas fariam o mesmo depois de viverem juntas por alguns meses. Mas que importância isso tem agora? A cena que eu presenciava eclipsava qualquer outra coisa. Naquele momento, num vislumbre da graça, me senti perto do céu. Talvez não fosse algo tão fantástico como a história da enfermeira, contudo, eu percebi uma realidade confortadora – apesar dos obstáculos, estávamos no caminho certo.

Fernando Beier é Mestrando em Teologia
Distrito de Indaiatuba, SP
Região Sudoeste da Igreja Adventista do Sétimo Dia

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